quarta-feira, 18 de agosto de 2010

PORQUE EU DEFENDO ISRAEL

por BERNARD-HENRI LÉVY
Filósofo francês, com mais de 30 livros publicados em filosofia, ficção e biografias, ativista militante e atuante que não foge de opinar sobre temas atuais.

Eu evidentemente não mudei de posição. Continuo a achar "estúpida", como havia dito naquele mesmo dia em Tel Aviv, em meio a um debate travado com um ministro de Netanyahu, sobre a maneira com a qual se executou, ao largo de Gaza, o assalto sobre o Mavi Marmara e sua flotilha.
E não me restou a menor dúvida que a apreensão do sétimo navio, nesta manhã de sábado, sem nenhuma violência, fechou o meu convencimento que havia outras maneiras de operar para evitar que se terminasse assim, sob sangue, a armadilha tática e midiática armada contra Israel pelos provocadores da Free Gaza.
Já foi dito e re-dito, não se pode mais aceitar, acima de tudo, a frota da hipocrisia, da má fé, e por fim, da desinformação que parece somente esperar um pretexto, como cada vez que o Estado Judeu comete um erro e tropeça, para se esgueirar pela brecha e repercutir na mídia do mundo inteiro.
Desinformação, a formula, requentada até a náusea, do bloqueio imposto "por Israel" enquanto que a mais elementar honestidade já demandaria que se precisasse: por Israel e pelo Egito; conjuntamente, pelos dois lados, pelos dois países igualmente fronteiriços de Gaza; e este, com o beneplácito apenas disfarçado de todos os regimes árabes moderados, muito felizes de verem um outros vergarem, por conta e para satisfação de todos, a influência deste braço armado, desta base avançada, um dia, quem sabe, deste porta-aviões do Irã na região.
Desinformação, a idéia mesmo de um bloqueio "total e impiedoso" (Laurent Joffrin, editorial do Libèration de 5 de Junho) que manteria "como refém" (Dominique de Villepin, Le Monde do mesmo dia) "a humanidade em perigo"de Gaza: o bloqueio, não se pode deixar de se lembrar, se refere somente a armas e a materiais necessários para sua fabricação; não impede que passe todos os dias, a partir de Israel, entre 100 e 120 caminhões carregados de víveres, de medicamentos, de material humanitário de todo gênero; a humanidade não está "em perigo" em Gaza; é mentir dizer que as pessoas "morrem de fome" nas ruas da Cidade de Gaza; se o bloqueio militar é ou não a boa opção para enfraquecer e, um dia, derrubar o governo fascista-islamista de Ismail Haniyeh, pode-se discutir - mas indiscutível é o fato que os Israelenses que funcionam, dia e noite, nos pontos de controle entre os dois territórios são os primeiros a fazerem a elementar mas essencial distinção entre o regime ( que se deve tentar isolar) e a população (que eles se preservam de confundir com este regime, pois, nem agora mesmo, a penalizam, pois sequer uma vez a ajuda humanitária deixou de passar).
Desinformação: o silêncio, na França como em outros lugares, sobre a inacreditável atitude do Hamás que, agora que a carga da flotilha preencheu seu trabalho simbólico, agora que ela permitiu pegar o Estado Judeu em erro e relançar como nunca a mecânica da diabolização (ainda no Libèration, esta manchete terrível e que, se as palavras ainda tem algum significado, não podem seguir a não ser no sentido da deslegitimização do Estado hebreu: "Israel, Estado pirata"), agora, em outros termos, que são os Israelenses que, feitas as inspeções, esperam encaminhar a ajuda aos seus supostos destinatários - o silêncio que se faz então, agora, sobre a atitude de um Hamás que bloqueia a dita ajuda no check point de Kerem Shalom e a deixa lentamente apodrecer: ao diabo com as mercadorias passadas entre as mãos da aduana dos judeus! Para o lixo com os "brinquedos" que fizeram chorar as boas almas européias que se tornaram impuros pelas longas horas passadas pelo porto Israelense de Ashdod! As crianças de Gaza jamais tiveram outros, pela gangue de islamistas que tomou o poder pela força faz três anos, a não ser jogos de escudos humanos, de bucha de canhão ou de vinhetas midiáticas, seus jogos e seus desejos são a última coisa com as quais o Hamás se preocupa - mas quem se pronuncia? Quem se indigna? Quem se arrisca a explicar que se existe em Gaza, alguém que retém reféns, que se aproveita sem escrúpulos e friamente do sofrimento das pessoas e, em particular, das crianças, em suma, um pirata, não é Israel mas o Hamás?
Desinformação, ainda: o lamento dos idiotas úteis tombados, frente a Israel, na armadilha destes estranhos "humanistas" que são, a IHH por exemplo, adeptos da Jihad, os fanáticos do apocalipse anti-israelense e anti-judeu, os homens e mulheres os quais, alguns dias antes da tomada do barco, diziam querer "morrer como mártires" (Guardian de 3 de Junho, Al Aqsa TV de 30 de Maio) : como um escritor da têmpera do sueco Henning Mankell se deixou abusar desta maneira? Como ele nos diz pensar em proibir a tradução de seus livros para o hebraico, como pode ele, principalmente ele, esquecer-se da sacrossanta distinção entre um governo em erro ou estúpido e a multidão que não se reconhece nele e que mesmo assim ele associa no em só projeto de boicote insensato? Como pode a rede de salas Utopia, na França, exatamente da mesma maneira, decidir de remover de sua programação o lançamento de um filme ( A cinco horas de Paris) pelo único motivo que seu autor (Leonid Prudovsky) é cidadão Israelense?
Desinformação, enfim, os batalhões de hipócritas pesarosos que Israel rouba e não cede às exigências de uma investigação internacional quando a verdade é, de novo, assim simples e lógica: que Israel recusa é uma investigação pedida por um conselho de direitos do homem das Nações Unidas onde reina estes grandes democratas que são os Cubanos, os Paquistaneses e outros Iranianos; o que Israel não quer é uma investigação do tipo que levou ao famoso relatório Goldstone encomendado, após a guerra de Gaza, pela mesma simpática comissão e onde vivem vinte cinco juízes, dentro os quais quatro jamais fizeram mistério de seu antissionismo militante, espelhado em quaisquer das 575 páginas de entrevistas dos combatentes e de civis palestinos feitas (heresia absoluta, sem precedente, neste tipo de trabalho) sob os olhos dos comissários políticos do Hamás; a este propósito Israel preveniu (e como reprová-lo) que não traria seu aval a esta pantomima de justiça internacional que seria uma investigação parcial, com uma conclusão conhecida antecipadamente e que visaria somente arrastar, como habitualmente, de maneira perfeitamente unilateral, a única e solitária democracia da região ao banco dos réus.
Uma última palavra. Para um homem como eu, para qualquer um que se vangloria de ter, com outros, inventado o princípio deste tipo de ações simbólicas ( Barco Pelo Vietnam; Marcha Pela Sobrevivência do Cambodja de 1979; boicotes anti totalitários; ou ainda, mais recentemente, violação deliberada da fronteira sudanesa para furar o bloqueio sob o abrigo do qual se perpetrava os massacres em massa de Darfur), para um militante, em outros termos, da ingerência humanitária e do ruído que vai em volta, existe nesta epopéia miserável uma caricatura, ou uma careta lúgubre, do destino. Porém, razão ainda maior para não ceder. Razão ainda maior para recusar esta confusão de gêneros, esta inversão de sinais e valores. Razão ainda maior para resistir a este desvio de sentido que põe ao serviço destes mesmos bárbaros uma política que foi concebida para lhes combater. Miséria da dialética anti- totalitária e de suas voltas miméticas. Confusão de uma época onde se combate as democracias como se tratassem de ditaduras ou de Estados fascistas. É sobre Israel que se questiona sob o turbilhão de ódio e de loucura - mas é também, ponhamo-nos em guarda, várias das conquistas mais preciosas, notadamente da esquerda, do movimento das idéias de há trinta anos que se vê postas em perigo.
Ao bom entendedor, minha saudação.



Tradução: Rogério P Rabello
Fonte - Publicado no Jornal Frances : Le Monde em 7 de Junho de 2010.

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